A CAÇADA Quem me sabe dizer o que é um nunce? Agora muitos saberão mas eu não sabia antes de chegar àquelas paragens angolanas. È um animal de porte imponente, de uma corrida veloz e de uma atenção ao que o rodeia fora do vulgar. É parecido a uma cabrinha de mato ou nossas só que terá o dobro do tamanho e uns corninhos não muito grandes mas que parecem bem fortes como os de um qualquer daqueles animais que se preze de os ter. Um certo dia ou melhor, numa certa noite uns quatro caçadores resolveram ir á caça e convidaram-me. Fui como espectador, como sempre. Então num geep pertencente a uma Companhia produtora de algodão que era uma das produções em massa daquela região lá partimos ao anoitecer. Noite bela, de luar claro como só ali vi e que nos encantava porque nos talhava silhuetas que muitas vezes nos deslumbravam mas não passavam de miragens ou construções de luz e escuridão e reflexos. Andámos, andámos e nada de caça maior, até que num pântano muito próximo vi uma quantidade de luzinhas pequeninas a olhar para o nosso farol. -O que é aquilo, sussurrei? -São hipopótamos diz-me o vizinho. Eu hoje penso que deveria ficar cheio de medo mas não o mostrei e nem me lembro. Se calhar, não. Virámos mais uma volta e na chapa do geep ouvia um bater de pedras mas que não parecia de pedras. Soube então que se tratava das sementes do algodão que se criam numa massaroca no cimo e aos lados do caule da planta. De súbito o motorista acelera e desata numa correria quase louca e aos ziguezagues que me pôs os cabelos em pé. -O que foi? È que tinham avistado o tal nunce que numa correria louca fugia e saltava em curvas e contracurvas sem se deixar ver bem. Num momento parámos e consegui á luz do farol vê-lo elegante e parado a olhar-nos. Aponta-lhe uma arma e ele desata noutra correria e nós vai ir a persegui-lo mas numa velocidade que não imaginam. O carro já tinha umas barras para nos segurarmos a elas senão corríamos o risco de ficar. Mais adiante começaram a entender que estavam a deixar terreno firme para se meterem num lodaçal quase tapado pelo capim mas com água. Já foi difícil sair dali mas o geep com tracção dupla lá nos fez o favor de nos acalmar. Já mais calmos, olho para o lado e pergunto pelo sr Domingos que ia ao nosso lado mas já lá não estava. Conclusão rápida: caiu quando eu arranquei, dizia o motorista-caçador. Se calhar já está morto. Então quem mais podia mais gritava por ele mas a resposta é que não vinha. Ó Domingos! Ó Domingos!!!! E o eco era a única resposta. Não se via bem mas eu creio que houve lágrimas porque até o carro era da Empresa algodoeira e não era para caçar além de a caça nocturna com farolim ser proibida e altamente penalizada. Estivemos muito tempo naquela incerteza, tentámos voltar pelo caminho da ida sem o conseguir já pela noite, já pelo luar que nos enganava, chamávamos constantemente e sem resposta. Até que num dos chamamentos aparece-nos uma voz já perto e dizia: estou aquiiiii …. Bom não queiram saber o que se lhe disse mas ele, um homenzito de metro e meio a rir-se dizia que não havia problema ele via os faróis do carro e estava tranquilo. Santa ingenuidade… Claro que daí ao insulto e promessa de nunca mais ser convidado foi um lapso de conversa. Mas o Domingos tinha ou não caído quando arrancámos? Não senhor, disse ele. Quando vocês pararam eu desci para ir matar o bicho…. Como não eram horas de pequeno-almoço que em Angola era o chamado mata-bicho, percebemos logo que o que queria era mesmo matar o nunce. Mas como aquele animal espertalhão se calhar não havia lá muitos e escapou-se não sem nos deixar quase metidos no pântano donde tivemos alguma dificuldade em sair. Para casa nada trouxemos mais do que aquele susto e a consolação de todos terem regressado. Era uma terra tão cheia de vida animal que recordo ter visto sair de um terreno queimado um tal bando de rolas que ao passar por cima de nós fez desaparecer momentaneamente o Sol. Que saudades da Longanhia!!! De- Augusto Rebola "Crónicas da CADA" Esta foi a 11ª Edição. NGA SAKIRILA KINENE!! MBOIM !! :) AVISO-Estes escritos estão registados e protegidos pelo IGAC |
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